sábado, 23 de julho de 2011

A máquina do tempo de Einstein.

Sempre me considerei uma boa aluna. Não que tirasse as melhores notas, longe disso. Eu fui o tipo de aluna que tinha um prazer em aprender. Nada me fez gostar de Física, pouco sabia desta matéria. Não chegava a ser uma frustração, apenas uma questão a meu respeito que nunca consegui entender.
E aconteceu que em um minuto, como num passe de mágica, eu aprendi a Teoria Geral da Relatividade de Einstein. Não vou perder tempo (e ocupar espaço) colando o que facilmente pode ser consultado, mesmo porque traria informação e não conhecimento. Contudo cabe lembrar que as palavras-chave da teoria são: tempo e espaço. Parece que existe uma curva que relativiza tudo.
Podendo não saber nada de Física, talvez até fosse indiferente à existência de Einstein, aquele casal de idosos não só dominava a teoria, como também a usava para deslocar-se no tempo / espaço.
Vamos aos fatos:
Estavam no calçadão da Rua Halfeld, nem estava calor, apenas aquele nublado típico. Ele, podendo ter oitenta anos, vestia jeans e jaqueta de couro, era alto e magro. Ela também poderia ter seus oitenta anos (pensar nisso só me traz mais dúvidas) e usava saia nos joelhos, jaqueta de couro, cabelos soltos e arco nos cabelos. Era visível que ser arrumara para aquele encontro. Lá estavam, ele lhe comprou um sorvete de casquinha, não quis pra si. Pude ver que seu prazer era olhar a amada feliz por aquela prenda. Ela tomava o sorvete sorrindo. O encontro estava bom como o sorvete. Eles caminhavam lentamente no meio do caos habitual da cidade. Não por serem velhos, mas por estarem namorando. Não por serem velhos, mas por dominarem o tempo. Não por serem velhos, mas por ser o ritmo natural do amor que viviam.
Não há dúvida que eles viajaram no tempo. Talvez tenham vindo de anos a nossa frente para recordar o sabor misto do Mc Donald's. Talvez fosse o casal jovenzinho no passado visitando o seu futuro pleno de amor. Talvez seja apenas mais um casal comum de idosos que passa despercebido pela cidade. Seja qual for a hipótese correta, esse casal não faz distinção entre ontem, hoje e amanhã.
E com eles aprendi que sou um contínuo no tempo / espaço e que não há distinção entre o que fui, o que sou e o que serei. Principalmente, aprendi que se for para relativizar o que é a vida, escolherei o que me faz bem, relacionado com quem me faz bem, sem esquecer de estar bem vestida a altura da ocasião de viver feliz.

sábado, 16 de julho de 2011

Adultas e os sete pecados capitais - Ira

Segundo Aurélio: Desejo de vingança, cólera.

O pior já havia passado. Terminar o relacionamento que era admirado ou invejado por todos. O fato é que ninguém conseguia ficar indiferente ao vê-los juntos. Afinal seu ‘ex’ possuía as sete virtudes desejadas pela mulher moderna: beleza, estabilidade financeira, disponibilidade emocional, bom de cama, sensível, romântico e sabia dançar. Porém na vida a dois faltava cumplicidade, intimidade e o que ela mais detestava: havia nele um lado obscuro que ela nuncaconseguia desvendar. Não entendia os acessos de ciúmes, o repúdio às demonstrações de carinho ou mesmo o sua excessiva necessidade de espaço.

Nem as modernas virtudes, nem o casamento marcado sinalizado pela aliança de alguns milhares de Reais deram a segurança que necessitava para assumir o ‘final feliz’. Não era medo do eterno, era medo talvez daquilo que nunca pode entender.

Assim, aquele episódio da viagem a Porto de Galinhas decidiu por ela que era hora de redirecionar sua vida afetiva. Seu noivo em um ataque de ciúmes brigou com um turista que a chamara de gostosa. O fato de defender a honra da amada que deixaria qualquer mulher apaixonada, não suavizaram os gritos de que ela o pertencia, já que havia pagado caro pelos luxos que ela tanto gosta. Gritou ainda que era para respeitarem a ‘coleira’ que estava na mão dela. Não bastasse a apologia à propriedade, abraçou-a pelo pescoço e se foram.

A família a condenou, os amigos procuraram justificativas que a fizessem perdoá-lo. Ela não queria perdão, muito menos pensar. Queria apenas esquecer, superar e se um dia fosse possível, olhar para trás e rir do que aconteceu. Não segurou o ímpeto de vender o anel e comprar todo o valor em coleiras e mandou entrega-las com o bilhete: “Ótimas recordações, nenhuma mágoa”.

Em resposta, apenas uma ligação, uma frase: você vai perder alguém que ama muito e eu estarei por perto vendo você sem ação.

***

Com ou sem ameaça, voltaria a se apaixonar. Saíram, ficaram, tiveram medo do rumo que as coisas estavam tomando. Poucas brigas, muito amor.

Tudo caminhava de uma forma muito diferente do relacionamento anterior. Ela ajudava no crescimento profissional dele. Ele estimulava sua independência e sua personalidade.

Dizia-se feliz.

Dizia-se completa.

E aconteceu uma semana após de seu primeiro aniversário de namoro. Durante a semana toda não se viram. Suas novas atividades o mantinham ocupado. E ele sempre atencioso mandou entregar algumas flores para alegrar seu dia e perdoá-lo as ausências. Adorava seu jeito romântico! Já estava em frente ao prédio dele, ficou feliz em ver a luza acesa. Como tinha a chave, entrou e para não estragar a surpresa desceu um andar antes e subiu o outro pelas escadas, sem fazer qualquer sinal. Abriu a porta lentamente, colocou a cesta com o jantar para os dois com muito cuidado na mesa de jantar. Sem acender uma luz, sem qualquer barulho caminhou para o quarto.

A dor do engano não seria mais forte. Nem a dor de se sentir traída. Estava sem ação. Parecia não ter mais suas pernas. Deixou de existir, pois não pensava em nada. Só olhava, como em câmera lenta, seu namorado e seu ex-namorado juntos. Nem poderia chamar de surpresa. A ameaça se cumprira. A vingança em prato frio se cumprira.
(Baseado em fatos reais)